O maior risco está na eventual atuação de lobos solitários (brasileiros simpatizantes de facções extremistas) ou de investidas planejadas por grandes grupos terroristas?
Nós preferimos chamar de ratos solitários. Seria mais provável [investidas isoladas], embora a chance esteja próxima de zero. No caso de algo maior, de grupo, precisaria de um planejamento maior. Como não só o Brasil, mas todo o mundo está fazendo um monitoramento grande, fica mais complexo.
O monitoramento aos ratos solitários também existe. Qualquer coisa que pareça suspeito, mesmo algo tosco, estamos de olho.
O governo francês admitiu que errou ao dizer que um brasileiro planejava atacar a delegação francesa. Houve exagero naquele momento?
Houve precipitação. Ao dizer isso, sem nenhum indício, obviamente tiveram de voltar atrás. Só de jogar essa possibilidade aumenta a sensação de insegurança. Não havia necessidade disso, sem que tivessem um mínimo indício.
Por que foi deportado para Paris o professor franco-argelino da UFRJ Adlène Hicheur? Quando o senhor decidiu que ele deveria deixar o país?
Fiquei convencido no dia em que soube da notícia, e eu nem ministro era. Achei um absurdo o Brasil dar guarida e emprego para alguém que foi condenado, cumpriu pena e [contra quem] havia uma prova forte. Além disso, trata-se de físico nuclear, que, dentro de um laboratório, tem todo o material em mãos.
Quando assumi o ministério, verifiquei que ele tinha visto de trabalho, mas não havia pedido de renovação. O visto venceu na quinta (14) e na sexta (15) ele foi retirado.
Ele chegou a se comunicar com grupos terroristas quando estava no Brasil?
Não. Se isso tivesse ocorrido, ele seria afastado antes.
Mas ele estava em situação regular. Neste caso, não houve criminalização de alguém que estava em dia com a Justiça?
Ele não foi criminalizado. Se fosse questão criminal, teria sido preso. Foi questão administrativa. Ele tinha um visto de trabalho, que venceu. Mesmo que tivesse pedido a renovação, o que não ocorreu, por interesse nacional, seria indeferido. As pessoas têm de perceber que o Brasil não é um destino para quem é banido da Suíça, é preso na França e tem ligações com grupos terroristas.
Foi confirmado se o grupo brasileiro Ansar al-Khilafah Brazil, que atuaria nas redes sociais, tem ligação com o Estado Islâmico? O governo brasileiro tem monitorado esse grupo?
É uma página de propaganda, não é interativa, que se for rastreada não chega ao Estado Islâmico. Obviamente, é um link de simpatizantes, mas não há, como chegou a ser noticiado, interação. Quem entra na página não interage com o Estado Islâmico, só olha os fundamentos. Obviamente, há aqueles que consultam, e todo o sistema de inteligência tem de ficar em alerta. As pessoas que consultam ou têm alguma atividade que possa levar a isso, a inteligência está acompanhando para evitar qualquer surpresa.
O governo brasileiro está usando tudo o que tem de mais moderno na questão de rastreamento, inteligência, tecnologia e procedimentos em relação ao terrorismo.
Fonte: Folha de S. Paulo
20/07/2016 11:13